Ignas Krunglevičius, Janaina Wagner, Mauro Giaconi, Maya Watanabe, Pontogor
Falência
Rio de Janeiro | 06 Julho — 19 Agosto 2017
Survivor
Everyday,
I think about dying.
About disease, starvation,
violence, terrorism, war,
the end of the world.
It helps
keep my mind off things.
— Roger McGough
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Estendido de manhã na vitrine da banca, o jornal fresco que ainda não embala peixes a essa hora embrulha estômagos. Eu olho só as manchetes, leio apressado, falam sobre a situação sócio-políticoeconômico-mais-sei-lá-o-que do ‘cenário atual’. Expressão que me incomoda, como se me insinuasse viver em um enredo como figurante de uma ficção maior. Ou como público, o que é ainda pior.
‘Escenarios’ é o nome que dá título a uma série de três vídeo-panoramas da artista Maya Watanabe. As imagens filmadas em Lima são paisagens desoladoras que se apresentam como um drama sem atores. Maya diz aludir à história recente da cidade, numa interseção entre história política e biográfica. Eu que assisto me sinto atrasado, como um espectador desavisado entrando após o fim da peça.
Um veículo naufragado no meio da sala é grafado por ‘Stultifera Navis’. Os mecanismos de busca, professores protéticos, me traduzem a escrita como ‘navio dos loucos’. Citam também uma pintura de Hieronymus Bosch e um capítulo de Foucault com o mesmo título. A embarcação proposta pelo artista Pontogor é um objeto contemporâneo, signo de trabalho, usado pelos herdeiros que somos de muitas outras embarcações e naufrágios.
Pode ser uma forma de humor encenar e festejar o fracasso. A farsa pode nos ensinar mais sobre a realidade, ninguém reprisará o fim do mundo para explicações . Na exposição Janaina Wagner repete em papel carbono a série ‘O Curso do Império’ de Thomas Cole, pintor norte-americano do século XIX, que retrata o ciclo de uma civilização da sua construção à ruína. E esses desenhos pastorais se confrontam com o tom paranóico da outra caixa de luz que chama do outro lado da sala, tentando dominar com palavras de controle seu público-servo.
Mauro Giaconi trata dos limites e exclusão dos corpos tanto em ‘Artesania Vertical’, cortinas de pregos e cacos de construção, quanto em ‘Mural Alambrado’, em que páginas de livros de arquitetura, anatomia, literatura, música… são sobrepostas pelo desenho à mão de uma grande cerca. Esses diferentes campos de conhecimento formam uma paisagem epistemológica em escombros.
A exposição reúne esses cinco artistas de diferentes origens que tratam tanto de ascensão e queda cotidiana. No final, talvez uma maneira saudável de lidar com os conflitos íntimos seja antecipar, se ocupar com crise, imaginar e preparar o próprio fim. Falar de falha, fracasso, falta.
Inaugurar. Desperdiçar. Esgotar. Falir.
Felipe R. Pena