Curriculum
Poli Pieratti
Brasília, DF, Brasil, 1987
Vive e trabalha em São Paulo
Textos
Poli Pieratti
SUBMERSAS
Curadoria de Catarina Duncan
“A água vai brotar em toda parte, no ser e fora do ser.”
Gaston Bachelard
“Submersas” é composta por uma série de pinturas feitas a partir de fotografias que circundam o universo das águas. As imagens em si e a técnica que oscila entre o seco, o aquoso e o oleoso evocam relações fluidas, amplas e submersas.
Tudo é água.
Fotografias inspiram telas que borram identidades e paisagens que se misturam como memória turva. A família se tor na água e inunda o corpo da obra, que perde também seus contornos e se desfaz em pigmentos.
Sangue também é água.
Carregamos no corpo as gotas dos outros. Lembrar das águas é lembrar da maternagem que nos habita. A vida em uma liquidez de emoções intrauterinas. Nossas memórias d’água persistem, nos gestando e nos parindo em ciclos. Cada imagem contém outras, são como grávidas.
Corpos d’água.
Sobre a mesa do ateliê, um livro: ‘A água e os sonhos’ de Gaston Bachelard. Nele acessamos algumas conexões entre as águas, a imaginação e o inconsciente. “A água é realmente o elemento transitório. É a metamorfose ontológica essencial entre o fogo e a terra. O ser voltado à água é um ser em vertigem. Morre a cada minuto, alguma coisa de sua substância desmorona constantemente.”
Imagens submersas.
A relação primordial entre nascer e morrer nos acompanha na construção dessa exposição. Imagens que aparecem e desaparecem, que se apresentam e se escondem, seguindo os fluxos naturais. O olho, molhado, reflete o mundo e informa o corpo, que de água entende. Pintar também é narrar.
Somos água.
Com o tempo, a água é absorvida pela tela ou evapora. Persiste em cada pigmento o quanto ela afetou o plano, novas imagens se formam. Onde havia mais água parece restar mais luz. Relações entre superfície e profundidade nos guiam para compreendermos esse pigmento-matéria que submerge, permitindo que possamos, assim, aguarmos juntos.