Currículo

Ana Clara Tito

Bom Jardim, RJ, Brasil, 1993
Vive e trabalha no Rio de Janeiro

Exposições Individuais Selecionadas

2023
Labirintos Vivos, Cavalo, Rio de Janeiro

 

2021
Ou o que dobramos com os olhos, CAMA, São Paulo
O que se degrada segue em frente, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro

 

2020
Fígado, Centro Cultural São Paulo, São Paulo

 

2018
Fundação de Arte de Niterói, Niterói, Brasil. curadoria de Desirée Monjardim
Como recuperar sua alma, Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, Rio de Janeiro

 

Exposições Coletivas Selecionadas

2023
Ana Clara Tito + Tiago Tebet, Auroras, São Paulo
Palimpsesto Sentido, Kubikgallery, Porto – PT

 

2022
Despertar Inconsciente, Casa Bicho, Rio de Janeiro

 

2021
Desmanche, Galeria Cavalo, Rio de Janeiro
Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros, Instituto Moreira Salles, São Paulo

 

2020
Travessias 6 – Colaborações, Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro
Casa Carioca, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro
Como Habitar o Presente?, Galeria Simone Cadinelli, Rio de Janeiro
À construção, Solar dos Abacaxis, Rio de Janeiro
Estopim e Segredo, EAV Parque Lage, Rio de Janeiro

 

2019
O melhor da viagem é a demora, Valongo Festival, Santos
Uso da Imagem, Atelie da Imagem, Rio de Janeiro
Para Habitar Liberdades, Solar dos Abacaxis, Rio de Janeiro
Os dois a 80km/h, Espaço Caixa Preta, Rio de Janeiro
Noite, Segundo ato, A Mesa, Rio de Janeiro
Noite, Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, Rio de Janeiro
Baile da Aurora Sincera, Solar dos Abacaxis, Rio de Janeiro

 

2018
Si vienen por la mañana…, Interior 2.1, Guadalajara, México
Encruzilhadas, mostra Superfícies, Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro
Vesícula, Espaço Breu, São Paulo
Encruzilhadas, Pence, Rio de Janeiro
Pouso de Emergência, Caixa Preta, Rio de Janeiro
Quimeras, Ateliê Trovoa , Niterói
Bela Verão, Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro

 

Residências

2023
Residência artística Faap, São Paulo

 

2020
Residência Capacete | MAM, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro

 

2019
Residência Raquel Trindade, MUHCAB, Rio de Janeiro
Residência Trovoa, Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, Rio de Janeiro

 

Formação

 

2023
Mestrado em Arte, Experiência e Linguagem, PPGArtes UERJ, Rio de Janeiro

 

2019
Programa de Formação e Deformação, EAV Parque Lage, Rio de Janeiro

 

2018
Desenho Industrial, UERJ, Rio de Janeiro
Cenas para outras linguagens, Camilla Rocha Campos, EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Arte, processos e afetos, Bob N e Edimilson Nunes, EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Encontros e reflexões, Iole de Freitas, EAV Parque Lage, Rio de Janeiro

 

2014
Media Arts, York University, Toronto, ON (período sanduíche)

 

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Textos

Ana Clara Tito

Labirintos Vivos

Ariana Nuala

Texto escrito na ocasião da exposição individual ‘Labirintos vivos’ na galeria Cavalo. Rio de Janeiro, 2023

 

Há uma inquietude na maneira a qual Ana Clara Tito se relaciona com a imagem fotográfica. É possível vermos borrões de paisagens, fragmentos de distintos corpos, entre outras camadas que anunciam uma aparição prestes a desaparecer, correr ou até mesmo fugir e ir de encontro a outras habitações, sejam íntimas ou públicas.

Tito tem um interesse em montar fotografias que denunciam os artifícios do ato de fotografar, recriando uma faceta múltipla ao enxergar as imagens: é concebível imaginar e percorrer diferentes espaços/tempos no mesmo momento ao invés de se fixar em um ponto.

A insuficiência na fotografia em revelar a totalidade da atmosfera a ser capturada, parece ser mote excitante para Tito, onde sua pesquisa se coloca na complexidade da tradução do diálogo entre presenças espectrais e corpóreas. Tito não reduz seu acervo fotográfico a exposições iconográficas, mas cria um jogo a partir da ilusão de um estado fixo, ou seja, quando utiliza o cimento como matéria principal de impressão de suas fotografias, reconstrói um estado sólido para memórias, mas passíveis de infiltrações, permeabilidade, quebras e torções e que na composição da obra se encontram com outros elementos como ferro, plástico e tecido.

Neste sentido, as foto-esculturas, como são chamadas por Tito, são obras que dinamizam a relação entre a fotografia e o espaço, acentuando aqui o fazer escultórico atrelado à desobediência de permanecer em movimentos de transformação. Portanto, um labirinto vivo, seria aquele que se move no entrelaçamento dos caminhos, entre emaranhados que muitas vezes não distinguem a vida em dicotomias.

Em mim, houve inicialmente uma incerteza, se o trabalho de Tito se traduziria na fotografia ou na escultura, até reconhecer que, na verdade, ele se discorre em ambos simultaneamente, e também os extrapolam. Ao chegar perto de cada foto-escultura, é possível ver fragmentos de cenas fotografadas, vi: retalhos de colchão, pisos de banheiros ou quartos, janelas, prédios, etc., esses ambientes que percorrem a obra de forma entrecruzada, não estão para serem vistos com clareza, e sim são condensados à uma forma indefinida. O cimento, aglomerado que religa esses lugares, funciona assim, quase como uma areia movediça ao puxar para o fundo corpos com menores densidades, criando dificuldade entre os limites do corpo engolido e o corpo que engole, aquele que abraça e o que escapa.

Um labirinto vivo, aqui, diferente de jardins luxuosos – muitas vezes podados e pomposos, onde ainda é possível encontrarmos um meio, um fim ou um início – é um espaço que reconhece sua superfície terrena, esta camada que envolve diferentes seres em distintas situações, que se transforma ao ser atravessado. São terrenos instáveis que desafiam o movimento, fazendo com que quem o atravesse saiba conduzir seus estados. Por exemplo, na areia movediça é necessário ficar parado para que o corpo possa flutuar frente à proporção de peso que é causada com o encontro desse tipo de solo. Então, quais são os exercícios de desestabilidade e também de remodelação, para penetrar estes lugares?

Acredito que o trabalho de Tito evoca essas imagens ao combinar elementos encontrados em escombros de construções, como metais oxidados, vidros e pedaços de barro, juntamente com sua coleção de objetos pessoais. Cada elemento então ensaia sua dança frente à contaminação entre um e outro, sua rugosidade diante da massa cinzenta que liga seus corpos, criando espaços também para a performatividade, seja em suas pausas ou continuidades.

Nesta exposição, as foto-esculturas estão relacionadas aos tampos de vidro canelado que foram coletados por Tito durante andanças nas ruas da cidade de São Paulo. O vidro denota em sua aparência translúcida uma delicadeza que contrasta com as obras. Estas, em sua vida labiríntica, refutam a nitidez, não permitindo ver o que está por trás, mas sim imaginar o percurso e as camadas não visíveis que esses corpos carregam em todos os tempos.

A forma indefinida de um labirinto vivo marca a compreensão de seus trânsitos, as relações entre corpos e gestos, incluindo atalhos, fugas, desistências e recomeços. Assim, ao também andar pelo labirinto – seja na cidade em que nasceu, o município de Bom Jardim, no lugar onde estudou, a capital do Rio de Janeiro, ou em lugares que transita, como São Paulo – Tito investiga a simultaneidade do seu corpo, sendo ele um corpo diaspórico, transgredindo limites e ensinando-o a mover-se, assim como fazem as fotoesculturas.

Para mim, o labirinto de Tito começa em suas caminhadas para a coleta. Sabemos que há algo que nos impulsiona a nos relacionarmos e, sem antes muitas vezes percebermos o que é, fazemos e nos modificamos naquele contato. Para agirmos a partir de um desejo desconhecido que se desdobra entre vários, tocamos, sentimos e posteriormente entendemos ou não. Mas existe algo que nos impacta e nos fala intimamente sobre o imediato, assim neste instante algo é capturado.  A captura, porém, se faz ilusão, como uma poeira fina, que dificilmente é retida com as mãos.

Diante da impossibilidade de uma existência sem porosidade, Tito encontra-se com as palavras de Byung-Chul Han, que nos recorda a presença de um pássaro negro que o atravessa, deixando-o em meio à paisagem. Neste fluxo, Tito, nos conduz a uma saída de um uso contínuo de uma imagem em completa nitidez, permitindo-nos adentrar na complexidade que se refere aos mundos.

Brincar com essa dimensão seria extrapolar os limites, contagiar-se, afinal quando o labirinto é vivo, ele não se funde com o que atravessa?

 

1 Louvor à Terra : uma viagem ao jardim / Byung-Chul Han; com ilustrações de Isabella Gresser; tradução de Lucas Machado. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2021.p. 127

 

 

Dobrar com as mãos o impossível

BEATRIZ LEMOS (CURADORA ADJUNTA DO MUSEU DE ARTE MODERNA DO RIO DE JANEIRO)

 

Por quase duas horas, ela estava ali firme, rochosa e séria. Dobrando vergalhões com movimentos precisos, ora curtos, ora longos, abertos e fechados. As varas, com quase 2 metros, lançadas como cordas naquele salão monumental. O metal era, pouco a pouco, convocado a uma nova forma, como se estivesse contornando seu corpo, fundindo-se a ele. O que viria a se tornar, não se sabia. Era o processo testemunhado, o exercício em curso.

A coreografia de Os usos da raiva, de Ana Clara Tito, é composta de uma equação simples: corpo e materialidade. Nela, os dois elementos são misturados até resultarem em uma escultura única e imutável. Este pacto instaurado na ação, em desenvolvimento desde 2018, se configura como vetor para o enfrentamento das estruturas de poder projetadas para a desautorização, o aniquilamento e a subjugação. Paralelamente, traz à tona a recusa da defensividade na medida em que se propõe não apenas a organizar a própria raiva, mas também a apropriar-se dela enquanto fonte de informação e energia, como pontua Audre Lorde no ensaio referenciado por Ana Clara Tito no título da performance.¹

Nesse sentido, é através dos pactos entre corpo e matéria que a artista conduz todo o seu trabalho, ao imaginar materiais de construção civil como entranhas, vísceras, estômago, baço, músculos e ossos, enfim, órgãos de um corpo ativo, que se acionam como esculturas, instalações e foto-objetos quando postos em relação. Difícil imaginar os comportamentos das matérias. Em qual momento o vergalhão se molda ao limite de quebra, ou o cimento se esfarela com a água quente? Qual seria a sensação do vidro ao deitar na areia fina ou na areia grossa?

Perguntas elaboradas pela artista, em uma busca constante pelo deslocamento de funções e ordenamentos que fazem parte de um repertório coletivo. Assim, cacos, pedaços, restos e outras coisas que podem ser associadas à inutilidade são desvirtuadas de sua predisposição original. Ana Clara faz existir outros comportamentos para esses órgãos, em um movimento que provoca o rearranjo da memória e a invenção de sistemas-mundos.

O interesse pela arqueologia e arquitetura presentes em sua obra vem desde sua infância na cidade de Bom Jardim, interior do estado do Rio de Janeiro, quando compartilhava do processo de construção das casas de seus familiares. Os materiais que compunham essas edificações viram esculturas e se reconfiguram com outras funcionalidades e aplicabilidades. Redes plásticas que guardariam frutas e legumes se remodelam, envolvendo estilhaços de vidro e pedaços de tijolos, ao lado de vergalhões de uma parede que não vingou. Uma arqueologia que guarda a memória do impossível.

Ana Clara identifica e coleta refugos da construção civil em canteiros de obras como se fossem sítios de escavações. Nessa arqueologia, a recapitulação material deixa vislumbrar paisagens diversas.

A artista considera essa metodologia transformativa na qualidade de “complexo”, conceito pensado e concretizado por ela enquanto uma linguagem, um modo de fazer e de estruturar com delimitações sem bordas.

Cada complexo se fundamenta e se comporta de acordo com o local a ser instalado, propondo uma negociação direta com o espaço expositivo, que se reconfigura para receber a composição da obra à medida que os materiais e

sua disposição se movimentam conforme a arquitetura do entorno. (Úde) Eu vim de novo, eu fui é o título que o complexo recebe em sua instalação ambientada no MAM Rio.

Em suas obras fotográficas, impressas em placas de cimento, as quais denomina como fotoesculturas, Ana Clara extrapola dimensionalidades, propondo uma visualidade que não submete o olhar a modos de ver estabelecidos. A artista coloca em diálogo a dureza e a maleabilidade do cimento, propondo outras possibilidades para a imagem com o uso de diferentes técnicas de impressão.

Ainda no campo da negociação da imagem, Os usos da raiva | momento 8 reconfigura a ação já posta em prática e movimento pela artista que, dentro do museu, propõe diferentes visualizações do ato performático, através de outros suportes e perspectivas, como escultura, polaroides, vídeo e som.

Na exposição O que se degrada segue em frente, a primeira da série Supernova, Ana Clara Tito traz para o museu uma arquitetura revirada e seus avessos, entranhas concretas de um todo fragmentado. Esta publicação propõe um paralelo àquilo que podemos ver no espaço expositivo, trazendo registros da pesquisa da artista no ateliê Moinho Fluminense, no bairro da Gamboa, Rio de Janeiro, desenhos que precedem a forma escultórica das obras e alguns trabalhos anteriores. Conta também com vistas da exposição, trechos de escritos da artista e uma conversa entre o crítico Tarcisio Almeida e Ana Clara Tito.

Este primeiro livro da série Supernova inicia um percurso editorial que pretende compartilhar pesquisas e processos artísticos, e aspira a criar um campo de possibilidades para pensar a produção artística do Brasil hoje.

 

 

 

  1. 1. Audre Lorde, “Os usos da raiva: as mulheresreagem ao racismo”, em Irmã outsider, trad.Stephanie Borges, Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
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