Alexandre Baltazar, Allan Weber, Ana Clara Tito, Andre Komatsu, Gabriela Mureb, iah bahia, Siwaju, Zé Tepedino
Miolo
curadoria Tainan Cabral
Rio de Janeiro | 25 Julho — 07 Setembro 2024
Alexandre Baltazar
Amores bólidos #2, 2024
emblemas automotivos usados,chapa de aço galvanizado encontrada e barras de metalon
55 × 85 cm
Alexandre Baltazar
Amores bólidos #3, 2024
emblemas automotivos usados, chapa de aço galvanizado encontrada e barras de metalon
58 × 58cm
Alexandre Baltazar
Cartas de Estocolmo II, 2024
gradil de ferro, voil e renda de algodão
70 × 12 × 30 cm
iah bahia
"I've been in your hometown / I'm looking for your water for my dry skin / just septed my place in a down earth for when you come don't find me as you know me.”, 2024
vidro cristal e ferro
45 × 62 × 50 cm
Allan Weber
da série Nós que se sustenta na raça
baú de entrega, caixa de papelão e elásticos
91 × 55 × 46 cm
Miolo
Tainan Cabral
A inteligência artística não se constrói somente pela reflexão mas pelo mundo vivido – e pela paixão por viver o mundo. As formas de existir nos espaços de convívio de cada artista se diferenciam e também se interligam pela maneira de experienciar a própria existência. Não de uma maneira crua do olhar mas através da manipulação dos objetos e materiais, a fim de criar um novo olhar, cozinhando essa matéria crua.
Essa existência que deixa marcas profundas nos informa na maneira que conseguimos falar sobre as coisas, formam nossa personalidade, caráter e opiniões mas também moldam a sensibilidade de cada um. Em cada olho há uma maneira de olhar particular.
Como sabemos a imagem que penetra nossas pupilas chega ao fundo do olho invertida, cabendo ao cérebro reorganizá-la. Conta-se que um cientista russo desenvolveu um óculos para ver o mundo de ponta cabeça e com alguma insistência e tempo, Theodor Erismann, conseguiu andar e se movimentar tranquilamente nesse mundo de ponta cabeça, com o passar de alguns meses, ao retirar os óculos, sua mente já não reorganizava a imagem da retina. Ele continuava a ver de cabeça para baixo. Esta história nos mostra a predominância do resto do corpo sobre o cérebro, é um exemplo em que o olho consegue enganar a mente.
Dentre as diversas formas de compreender o ato de criar, a fenomenologia propõe que toda criação é um fluxo continuo de recriação. O mundo que encontramos pelos sentidos do corpo nos mostra não só os objetos que estão ali presentes mas também formam a nossa própria percepção. Assim, a imagem do objeto observado é devolvido pelo olhar carregada de sentido. Os órgãos também teriam assim hábitos e uma “intencionalidade sensiente”¹. As partes do olho, como cones e bastonetes, funcionam como neurônios, organizando ativamente o que é observado, não apenas recebendo passivamente imagem. O olhar imprime no objeto sua verdade, a sua forma final.
Como pode captar e criar ao mesmo tempo? O olho, autônomo da mente, tem o poder de criar imagens através dos fenômenos, que já carregam histórias e conceitos, nas paredes, nas ferrugens, nos panos envelhecidos, nos ferros soldados, nas lonas, nos cortes das lonas, em costuras despretensiosas e funcionais que consertam o defeito… Mas no olhar dos artistas se tornam uma potente escuta atenta e suave, como a de um psicanalista que está a procura dos – idiomas ou – detalhes nas falas de seus pacientes que os próprios não enxergam e são instruídos sobre si mesmos por esse olhar que escuta.
Quanto menos se fala, mais se escuta, quanto mais se escuta, mais se observa, quanto mais se observa, mais se absorve, quanto mais se absorve, mais se incorpora, quanto mais se incorpora, mais se aprende de verdade a essência de algo, podendo transformá-la em algo seu pois os olhos e ouvidos tem a capacidade de recriar as coisas que são tocadas por eles. Na amizade da matéria quase pronta com a/o artista, o vislumbre vem junto a constatação da obra.
Nos artistas presentes em Miolo, esses caminhos do olho, criam encontros ópticos que o cotidiano secular constrói, atribuindo narrativa ao trabalho. De forma que as informações chegam aos olhos e são capturadas como matéria prima ao mesmo tempo que obra prima.
1 – Merleau-Ponty cunha o termo para juntar sensibilidade e consciência, ao falar da intenção do corpo que não está subjugada pela mente