Curriculum
Marina Weffort
São Paulo, Brasil, 1978
Vive e trabalha em São Paulo
Exposições Individuais Selecionadas
2023
Escada d’água, Cavalo, Rio de Janeiro, Brasil
2021
Do ar ao quadrado, Simões de Assis, Curitiba, Brasil
2019
Tecido, SIM galeria, São Paulo, Brasil
2017
Tecido, Cavalo, Rio de Janeiro, Brasil
2016
Tecido, Galeria Marilia Razuk, São Paulo, Brasil
2014
Lugar das Coisas, Galeria Marilia Razuk, São Paulo, Brasil
2010
Still Life, Galeria Marilia Razuk, São Paulo, Brasil
2009
Programa de Exposições 2009, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, SP (Prêmio Aquisição)
Exposições Coletivas Selecionadas
2023
Área play, Silvia Cintra + Box4, Rio de Janeiro, Brasil
2022
Ópera citoplamática, curado por Luana Fortes, Diego Mauro e João GG, Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil
2021
Throught the eye of the needle, curador: Gilgert Vicario, Sicardi / Ayers / Bacino, Houston, EUA
Just breath, The55Project Pop Up, curador: Felipe Hegg, Miami, EUA
2019
Estratégias do Feminino, Farol Santander, Porto Alegre, Brasil
14ª Bienal de Curitiba – Fronteiras em Aberto, Curitiba, Brasil
10 / 40, Kubik Gallery, Porto, Portugal
Lacunas Preenchidas, curadoria de Gabriela Daviies, Galeria Aymoré, Rio de Janeiro, Brasil
2018
A Invenção do Dia Claro, Cavalo, Rio de Janeiro, Brasil
Mulheres na Coleção MAR, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil
Avesso Viés, curadoria de Paulo Miyada, SIM Galeria, São Paulo, Brasil
Jardim das delícia com juízo final, curadoria de Pedro Caetano, Cavalo, Rio de Janeiro, Brasil
2017
Do silêncio: vers Leonilson, curadoria de Ricardo Resende, Galeria Marilia Razuk, São Paulo, Brasil
In Memorian, curadoria de Fernanda Lopes, Caixa Cultural Rio de Janeiro, Brasil
2016
Geometria Afetiva, SESC Bom Retiro, São Paulo, Brasil
Em Espera, curadoria de Douglas de Freitas, Museu Murillo La Greca, Recife, Brasil
Exposição Inaugural, Galeria Cavalo, Rio de Janeiro, Brasil
2015
Trajetórias em Processo, curadoria de Guilherme Bueno, Anita Schwartz Galeria de Arte, Rio de Janeiro, Brasil
Retrospectiva- 25 Anos Programa de exposições CCSP, curadoria de Maria Adelaide Pontes e Marcio Harum, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil
2012
Instável, curadoria de Douglas de Fretias, Paço das Artes, São Paulo, Brasil
Alguns de nós, Galeria Marilia Razuk, São Paulo, Brasil
2011
Nova Escultura Brasileira, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil
Quase Figura, Galeria Marilia Razuk, São Paulo, Brasil
2009
Realidades Impossíveis, Ateliê397, São Paulo, Brasil
Amarelo Negro Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil
Programa Exposições 2009, MARP, Ribeirão Preto, Brasil
2008
33º SARP – Salão de Arte de Ribeirão Preto Nacional-Contemporâneo, MARP, Ribeirão Preto, Brasil
36º Salão de Arte Contemporânea de Santo André, Santo André, Brasil
2006
Exposição Coletiva Grupo de Terça, Ateliê do Centro, São Paulo, Brasil
2005
Exposição do Grupo do Ateliê do Centro, Fundação Blumenau em parceria com a FAS, Blumenau, Brasil
2003
Passos – Coletivo Grupo Coringa, São Paulo, Brasil
Coleções
Coleção Centro Cultural São Paulo (CCSP), São Paulo, Brasil
Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil
Projeto KORO – Public Art Norway, Noruega
Maxine and Stuart Frankel Foundation for Art, Bloomfield Hills, Michigan, EUA
Atualizado Novembro 2024
Textos
Marina Weffort
Tecer às avessas
Maria do Carmo Pontes
Texto escrito por ocasião da mostra individual da artista na SIM galeria em 2019
Três eram as Moiras(1) que decidiam a sina de todos na mitologia grega – sua autonomia era tamanha que nem os deuses podiam interferir em seus planos. A narrativa da vida, aqui representada por uma linha, era iniciada por Cloto, que a colocava em um fuso. Láquesis então assumia, puxando o fio e assim decidindo as fortunas e desfortunas de um indivíduo. Por último, vinha a implacável Átropos, responsável por cortar a linha da vida. Também Penélope usava o tecer e destecer de um sudário dedicado ao rei Laerte como uma estratégia para declinar propostas de pretendentes que tomavam seu marido, Ulisses, como morto (2). O fio, ou a linha, é carregado de simbolismos que vão bem além do campo mitológico: da aranha (representação materna no universo de Louise Bourgeois, arquétipo super-heroico no universo de Stan Lee) – à enorme trança da Rapunzel, que lhe salva a vida. A palpabilidade de sua imagem o faz presente em expressões corriqueiras, como “fio da meada” e “por um fio”, e é ele que amarra um dos poemas mais bonitos da língua portuguesa, Tecendo a Manhã (3), de João Cabral de Melo Neto. A linha é também a matéria-prima preferida de Marina Weffort.
Seu fazer artístico, no entanto, difere fundamentalmente daquilo que é esperado de obras com tecido, em que há um exercício da construção pela adição. Sobre panos pré-fabricados, Marina pinça fios, retirando-os da trama e assim revelando imagens. Pela própria natureza do processo e do material, as formas criadas são geométricas, e grosso modo retangulares. A artista planeja sua operação de antemão, fazendo marcações em cada um dos tecidos. Erros ocorrem e são às vezes incorporados, levando a imagem a outro lugar, mas raramente são bem-vindos – ocasionalmente fazem com que a artista abandone um trabalho e comece de novo.
Há uma negociação constante com a matéria, que cede ou resiste e obedece, como tudo, à lei da gravidade: Marina trabalha o tecido na horizontal, sobre uma mesa, mas o exibe sempre na vertical. Alguns são pendurados com seis ou quatro rebites, outros com apenas dois na parte superior, deixando a parte inferior mais vulnerável. Todos os tecidos são expostos sem moldura e convidam o espectador não ao toque, mas ao sopro, já que o menor sinal de vento coloca as obras em movimento. Eles seguem uma paleta de cor restrita, em tons pastel, que vão do branco e cinza ao marrom, com uma eventual concessão (ou desvio) para o vermelho. Por vezes grandes e imersivas, por outras afáveis em escala, as obras são invariavelmente sem título. Suas formas, no entanto, sugerem imagens que lhes rendem apelidos carinhosos, como Marzinho, Ampulheta e Bambu.
O que parece um marzinho é um tecido cinza-claro que apresenta listras verticais intactas, deixadas a um intervalo regular, simétrico. Dentre uma listra e a próxima, a artista remove todos os fios verticais, dando lugar a longos desfiados horizontais que, sem a trama original, naturalmente formam pequenas barrigas. A partir de um pouco mais da metade inferior, Marina remove por completo seções finas. A ausência total da matéria acentua ainda mais essas barrigas, criando a ilusão de ondas contínuas. O trabalho tem só dois pontos de apoio, assemelhando-se a uma cortina. Como em todas as obras da artista, o desfiado permite um olhar através, revelando – com diferentes dimensões de clareza, como neblina – um espaço entre o tecido e a parede.
Há outro trabalho que, observado a certa distância, se assemelha a uma floresta de bambus. A vontade cartesiana aqui é mais livre, e cada um dos “troncos” apresenta uma espessura diferente, bem como cortes horizontais em alturas variadas, enfatizando a dimensão figurativa da composição. Como marzinho, ele é claro, de um ocre esverdeado, mas ao contrário do outro é pendurado com alguns rebites para que fique esticado.
Já a janela cinza dialoga com a floresta de bambus em seu ritmo, porém tem uma vontade intrinsecamente simétrica – e menor escala. Em várias das outras obras expostas, a artista cria formas triangulares, como uma ampulheta ou uma montanha/vulcão. Ou mesmo um triângulo reto, que ora desce, ora sobe, tal qual franjinhas. Todos os tecidos são únicos, mas fazem parte de uma mesma genealogia. O trabalho que mais foge dessa ordem é uma pequena obra cinza com um grid horizontal. Ela apresenta no topo uma forma geométrica, porém abstrata, que remete a um cometa ou – por que não? – a um retrato de Marge Simpson, que deixa de fora parte do seu icônico cabelo.
Ainda que preferido, o tecido não é a matéria-prima exclusiva da artista. Em paralelo a sua produção têxtil, Marina cria, usando um marrom quase flicts (4), aquarelas monocromáticas, que dialogam com seu outro corpo de obras. Algumas de fato se parecem com os tecidos, como se fossem projetos, obedecendo ao rigor do retângulo. Outras exploram formas circulares, ovais ou híbridas que, quem sabe um dia, irão se formalizar como tecido. Há no seu fazer uma regra básica: a artista molha o pincel com tinta uma vez e trabalha o papel em movimentos regulares até exaurir a cor. A espessura cada vez mais tênue do gesto lembra gradativamente o desfiado do tecido. Vê-se também uma correlação do plano, pois, ainda que os tecidos sejam necessariamente esculturais, em sua forma bruta eles são bidimensionais.
Seja qual for a técnica eleita, Marina explora o rigor da forma, carregado de graça, gingado. Há uma perversão deliciosa em sua geometria imperfeita. Mole, no melhor sentido da palavra.
(1) Ou duas, ou até mesmo uma, dependendo do relato. Como tudo o que circunda as narrativas mitológicas, não
há um consenso. Nos atenhamos a três, então.
(2) Como conta Homero na Odisseia.
(3)
1
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
In: MELO NETO, João Cabral de. Obra completa: volume único. Org. Marly de Oliveira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p.345. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira).
(4) Livro infantil homônimo de Ziraldo, publicado originalmente em 1969
Tecidos | Marina Weffort
Douglas de Freitas
Texto escrito por ocasião da mostra individual da artista na galeria Cavalo em 2017
Em uma simpática casa de numero 51, localizada na rua Sorocaba no bairro Botafogo está a Galeria Cavalo, que recebe agora a exposição “Tecidos” da artista Marina Weffort. Diferente de um espaço “cubo branco” o ambiente da galeria parece nos levar para outro lugar, ou até mesmo o ponto de partida do universo de produção da artista. Os materiais escolhidos para compor as obras da artista são materiais do mundo comum, do ambiente doméstico, nesse caso são tecidos, que agora se apresentam desfiados, em alguns casos, quase desfeitos.
Através de sua minuciosa operação Weffort retrocede o industrial para o manual, faz o caminho contrário à lógica evolutiva da indústria, redimensionando a posição do comum no mundo. O industrializado agora surge reprocessado, se revela como matéria prima bruta, usado em sua total potência formal. Destrinchados, esses tecidos são elevados à escultura, desenho ou pintura.
A artista traça caminhos. São tecidos de cores claras, de presença leve e frágil. O trabalho é minucioso, é de desconstrução em ordem de construção. Cortes geométricos estruturados na trama dos tecidos definem os espaços, vazados ou desfiados. Os caminhos ali traçados, por mais labirínticos que possam parecer, respondem sempre à trama, sempre horizontal ou vertical, qualquer ação fora dessa regra, anula o trabalho, tudo se desfaz.
Montados diretamente na parede, porém separados dela por poucos centímetros, esses tecidos exibem suas entranhas de maneira silenciosa. Esboçam exercícios de contenção e fuga, fluidez e tensão, vazio e cheio, projetam-se sobre a parede, e pulsam com o movimento ao seu redor.
Marina cria novos espaços. Seus tecidos são como plantas arquitetônicas, tem limites e estrutura pré-definida, se parecem não fazer sentido como planta, é porque não são pensadas para o corpo humano percorrer, são desenhos para que a luz e o ar percorra por eles, e para que de modo extremamente delicado, eles também engulam o espaço ao seu redor.
Certa vez Cézanne disse “O que tento traduzir-vos é mais misterioso, emaranha-se nas próprias raízes do ser, na fonte impalpável das sensações”. É desse modo que Marina opera, razão, matemática e geometria se combinam em impalpável mistério.